quinta-feira, 19 de março de 2009

Crônica...

Até que a morte nos separe

Rubens, um grande amigo, há um mês vivia me procurando pra falar de como seria distribuída sua herança. Ele estava sentindo que iria morrer. É claro que o que menos me importava em meio à crise era saber o quanto a mulher dele e seus filhos (alguns bastardos) receberiam. Sem contar que minha mente não gostaria de pensar em perder meu companheiro de aventuras, mesmo que meu nome estivesse entre esses que ganhariam uma boa quantia de dinheiro que jamais supriria sua ausência.
Nossas prosas sempre foram as mais prazerosas, já que sempre achamos interessante comentar a vida, e a cada bar que frequentávamos uma nova história tínhamos pra lembrar. Os encontros em um mesmo boteco se tornaram mais frequentes. Ele deixava sua esposa cuidando das crias e corria como um menino para conversar mais um pouco comigo. Em meio a tantos assuntos, o garçom parava e prestava atenção em cada suspiro de Rubens, parecia que estava admirando a forma com que meu amigo pronunciava as palavras. É claro, que como um homem que aprendeu com a vida a ser sarcástico, desconfiei da masculinidade daquele rapaz. O cidadão tinha o nome de Marcelo, e adorava pronunciar com uma entonação medíocre a segunda sílaba, como se estivesse mascando chiclete.
A partir dos encontros diários no mesmo bar comecei a me sentir um pouco usado no último mês. Rubens, aquele canalha, estava me levando para tomar cervejas enquanto ele tomava conta do garçom. Pois é, acredite, meu grande amigo se entregou a uma paixão dos tempos modernos. Não pense que fui preconceituoso quando soube, só desejei que “Mar-CÉ-lo” não roubasse de mim a amizade que cultivei por esses anos.
Dias se foram, e na semana passada meu parceiro voltou a tocar no assunto dos seus bens, e confessou que sua aventura amorosa influenciou na decisão da divisão. Preferi não pensar que ele deixaria tudo para alguém que se envolveu em pouco tempo, enquanto sua esposa estava em casa como técnica cuidando de seu time de futebol. Com a cara mais lavada Rubens disse que deixou todos os patrimônios para sua mulher e seus filhos e que deixou algo especial para mim. Minha face mudou. Fiz cara de amigo prestigiado, e enquanto pensava em um discurso de agradecimento ele disse: deixarei tudo de valor material para minha família, e pra você, deixo a minha sogra, porque apenas alguém que me conhece tão bem vai saber um jeito de sumir com ela pra que eu seja o primeiro e o último a ter o azar de ser seu genro.

(personagens fictícios)

Julyenne Rua

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